não me mate ainda que não me faça viver
nem venha depor aos meus pés esplendorosas aves mortas
saiba que tenho o desejo de morrer na manhã de olhos abertos à luz
além do espasmo fervente das veias do sexo e da semente derramada,
depois da fogueira das bocas e da odorífera cegueira da língua
– o desejo incandescente que transpira da pele, a líquida pele-suor
não me mate para que eu possa morrer na perfeição pura da sua face,
na regra-acaso de ouro que desenhou a proporção que existe entre os olhos e as sobrancelhas
e os lábios férteis,
na luz que doura os seus cabelos, sem a figura de estilo do fogo, só o ouro
dessa noite na minha face, sob os seus cabelos, respirando
a pele do seu pescoço ao toque da minha boca
é quase manhã
2016
*
Imagem: Albrecht Dürer [1471-1528], Pássaro morto, 1512, Viena, Graphische Sammlung Albertina.