Fragmento

Na clausura real do tempo e do espaço, é no interior do vão entre a vida e a morte que a escrita acontece, toma forma e significados e faz-se legível e compreensível, oferecendo-se ao poder da imaginação. E assim o mundo e a sua decifração quotidiana – uma acção interna que decompõe, como se fora uma iluminação, a realidade e as coisas dela, que permanecem na única verdade absoluta que é uma forma do seu fim, ou seja, do fim único do universo de um sujeito. Neste sentido, que contempla a duração das coisas, o universo individual transforma-as, reinterpreta-as e confere-lhe diversos rumos, isto é, diversas vivências, consoante o seu saber. A sabedoria é o caminho de quase uma vida inteira – uma solidão; as representações dos velhos de Rembrandt, onde a luz é a intimidade do fim, a aparição súbita de um tempo denso que se sabe consumido. Os olhares emanam uma íntima tranquilidade reforçada pela incidência da suavidade da luz que descobre a força dos rostos. Os olhares desses velhos espelham a dignidade do pensamento e uma dada história da qual são a imagem que aguarda. Não existe um imutável seja do que for, e toda a transformação que tal princípio acarreta é uma essência do humano e da Natureza.; uma liberdade de consciência e dos seus métodos no tempo. Nada é imutável ao juízo na sua duração, e os conceitos existem nas contingências da temporalidade. Tudo o que fica escrito é vulgar. A noite é-me diferente na medida em que eu o sou.

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