Diário, 260

2023, Maio, 1 – Chega-me a noite – é um horizonte, uma rosa negra e a sua corola onírica que revela o outro mundo caído em espelhos; obrigo a mim a perigosa e suave penumbra tocada pelos riscos do vento que faz brilhar as cinzas mortas, que abre o objecto, fora da faca, em cujo vórtice as palavras decaem, e a sua descrição se perde; uma laje que um dia se inclinará ao passo. No chão arenoso, percorrido pelas raízes dos pinheiros sombrios, faltam razões e ocorre sempre a chegada ao lugar repetido, de tecidos, veias e artérias, de cabeça e coração amarelo. Depois, é o terror ansioso das ideias semelhantes, a ressalva da falta, esse desenho embrechado na pele, como o ferro ardente com que se marca os animais.

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