Diário, 262

2023, Agosto, 12 – Comecei por um poema falhado, uma amálgama de palavras distantes da vida, da minha. A um dia como o de hoje nenhum poema o pode justificar e sequer a noite tem a força anímica que julgo. A depressão rasgou-me o caminho. Acendo o cigarro num gesto côncavo de expectativas que me substituam a desolação. Sob a luz forte do candeeiro, uma luz branca intensa de sol falso de matéria, luminescência negra, o fumo volteia, é uma nuvem dividida e frágil, vertical, gongórica, que se desfaz, lenta, como um girassol, até à extinção. E deveria ser tudo, sem nada. Uma fotografia que engolisse a solidão, fora das normas do tempo. e uma terra, também, qualquer que ela fosse, destinada ao mar.

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