Os cachos de uvas pendem dos ramos

O que existe profundamente é a constatação do silêncio que envolve, como uma essência aquietante, perturbadora e estética, o prazer e a angústia. O segredo e o mistério à face branca de um território ansioso; mas o segredo é uma jura, o mistério uma condição indecifrável que espera, à margem do tempo – a sua condição poética – as aproximações. Mas também é provável que não exista mistério algum, mas uma incapacidade ou uma truncagem do conhecimento das coisas, da organização das ideias; que esse mistério seja uma necessidade, uma construção da nossa ansiedade em relação à morte. Reparei, hoje, que a videira se expandiu pela cercadura de metal e que em breve a abarcará toda, como o círculo da vida. Os cachos de uvas pendem dos ramos e a luz torna as parras quase transparentes. É suficiente que o veja e o considere belo, é tudo quanto preciso, numa vivência telúrica sem ramificações metafísicas. A hera que plantei pegou e já tem pequenas folhas novas. Não tenho uma razão para o contentamento de sentir a terra, nem para o desejo dos bosques, nem para o bramir do vento na invisibilidade da noite. Tudo está embelezado, na sua razão, pelo sofrimento e pelo limite dos músculos do coração; a procura do aquém das coisas liberta as coisas dos seus constrangimentos, das suas circunstâncias dominadoras, de quanto nelas nos questionamos. O aquém é o absoluto, a perfeição, a noz; a transposição das coisas enquanto evidências. Apenas o conhecimento de si autoriza tais ínvios caminhos sem que o que se é se confunda. O que nos pertence é apenas a filosofia de o pensar.

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