Diário, 289

Amo o silêncio da noite como o ângulo da luz sobre a terra. E a sua insuportabilidade quando nada mais indica senão o vazio perante uma escrita que ainda não existe e aguarda o seu devir. Uma falta, uma ausência de sentido que não sei contrariar. Toda a motivação da escrita me parece, então, vulgar. Não sei transpor a sombra da dúvida, o temor face à branquidão; caio perante na armadilha do “motivo”. Mas nem a existência dele, quando a há, me sossega. É preciso algo “maior” para que se escreva, e essa escrita resista. A escrita começa a resistir a partir de dentro, a partir da obscuridade que aguarda a decifração.

Deixe um comentário