Os candeeiros da noite

Longínquos pontos de luz macilenta, os candeeiros da noite são uma divisória do silêncio e do sol, um cansaço gutural que envolve de cardos o pescoço, pequenos espinhos sob a flor azul de uma melancolia dourada a ouro puro, ávida de um campo aberto onde não exista a construção das palavras por procurar, mas apenas uma contemplação exangue dentro do entendimento da linguagem por onde correu o dia. A noite revela a inutilidade da errância que é o subterfúgio da recusa dos vagarosos sedimentos de um rio, sendo que o rio, na verdade, vence com a sua prata a noite. Depois, a noite acerta todos os elementos da física. Porém, mesmo não considerando os candeeiros da noite, a escuridão não é absoluta e o reflexo solar da lua, por resumido que seja, permite distinguir o perfil das árvores exactas, manchas negras sentimentais onde tudo vai perecendo com lentidão. Os candeeiros da noite alumiam chãos desertos, urgentes, ocasionalmente dominados pelos traços luminosos dos automóveis; mas ninguém. traços fragmentados pela estrada fora, marcados com halos amarelos que desmentem a noite; mas a noite não pode ser desmentida, pois o seu império reina sobre o dia e ninguém reconhece tal evidência dolorosa, ninguém, embora todos os sinais sejam visíveis nas ínfimas metamorfoses do corpo e do espírito. O azul desgarra-se da luz dos candeeiros da noite, e assim do sol, para que possa ser faca e esponja, ladeira verde e magnólias. Voz alguma trespassa a noite e a sua mudez; a noite e os perfis.

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