Diário, 302

2024, Janeiro, 19 – No recôndito lugar onde somos. Aí nos atinge a comoção mais profunda, indelével. Esse lugar, algures na nossa consciência onde o contingente se desfaz nos limites. A escrita torna-se ineficaz, a linguagem indecifrável. Ou talvez não devamos escrever sobre esse lugar inatingível; mas isso é uma confessada fraqueza, uma Torre de Babel. E, no entanto, procuro ainda o livro que possa ser escrito a partir daí, não o livro possível, mas o livro impossível que é necessário encontrar e no qual a linguagem resista à tensão do vazio. Nenhum livro é escrito se não existir já escrito; é preciso lutar contra o desmoronamento das palavras em face do que existe antes delas: a perfeição.

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